Algumas notas preliminares sobre o novo Plano Estratégico da Petrobras 2022-2026

José Sérgio Gabrielli
Imagem na cor azul escuro, com o logotipo do Ineep ao centro.

Ao anunciar o seu novo Plano Estratégico 2022-2026, a Petrobras começa a retornar ao seu veio histórico de uma empresa petrolífera, produtora e refinadora de petróleo, ainda sem dar ênfase à transição energética e com projetos insuficientes para a integração com o refino. Retoma, ainda que pequenos, os investimentos no refino, amplia o número de plataformas a entrar em operação e abre novas fronteiras de produção nas águas profundas de Sergipe, além de retirar de sua missão as metas financeiras de curto prazo.

 

Ainda menor do que o Plano de Negócios 2019-2022, o atual Plano aumenta em 24% os investimentos em relação ao plano do ano passado, prevendo investimentos de US$ 68 bilhões no período. O valor de mercado da Petrobras em Nova York era ontem (24/11/2021) de US$ 67,6 bilhões de dólares. Apesar de retirar a meta de alavancagem financeira como missão estratégica da empresa, que dominava os últimos planos estratégicos, o PE 22-26 mantém a lógica de privilegiar os acionistas entre os vários grupos de interesse que constituem o mundo da empresa.

 

Para os trabalhadores, por exemplo, há genéricas referências à preocupação com Segurança do Trabalho e direitos humanos, mas absolutamente secundarizado em relação à grande importância e definição das políticas de remuneração aos acionistas e pagamentos das dívidas. Em relação à sociedade como um todo, poucos programas de responsabilidade social e, em relação ao governo, fala-se apenas em aumento impostos e do pagamento de dividendos, sem qualquer referência a políticas de conteúdo nacional e impactos macroeconômicos de suas atividades.

 

Apesar de grande parte dos investimentos se concentrar na expansão da Exploração e Produção, prevendo que a totalidade da produção de 2026 virá de campos do pré-sal, há um aumento dos investimentos no refino, que sobem 52% em relação ao Plano anterior. Um bilhão e meio de dólares será investido na REDUC e no GASLUB de Itaboraí, US$ 1 bilhão vai para a duplicação da capacidade da RNEST, que sai do programa de privatização, e mais US$ 3,5 bilhões irão para comercialização, logística e melhorias do parque de refino. A unidade de tratamento de gás em Itaboraí também receberá novos aportes de investimento, assim como US$ 2,8 bilhões se destinarão à mitigação e redução de emissões.

 

Na estratégia de contratação de plataformas, a Petrobras prevê a compra direta de algumas, em substituição ao afretamento, admitindo projetos com valor adicionado positivo a partir de US$ 35 o barril, portanto, com grande resiliência em relação aos preços atuais de mercado, em torno de US$80 o barril, refletindo a alta produtividade de campos da empresa.

 

Do ponto de vista financeiro, o PE 22-26 prevê US$ 150-160 bilhões de geração de caixa após impostos e depósitos judiciais e mais US$ 15-25 bilhões da continuidade do programa de vendas de ativos da empresa.

 

Os planos de expansão da RNEST sugerem que ela estará fora desse plano, que já vendeu a RLAM, a GASPETRO, a BR e outros ativos da empresa. No entanto, em uma pequena nota na apresentação do Plano, a Petrobras mantém a RNEST no seu novo plano de privatização do refino, pretendendo chegar a 2026 com um parque de refino concentrado no Sudeste, com capacidade de refinar 1,2 milhão de barris por dia. Como a produção de petróleo deverá alcançar 2,6 milhões por dia nesse ano, as exportações ou vendas da empresa para terceiros deverá ser de 1,4 milhão de barris por dia de petróleo cru.

 

Em termos de uso dos recursos financeiros, US$ 60-70 bilhões irão para os acionistas, US$ 10-15 bilhões irão para os credores, considerando U$ 5 bilhões de captações e os custos e amortizações dos arrendamentos consumirão mais de U$ 40 bilhões no período. Os tributos deverão ser na faixa de U$ 60-70 bilhões e os dividendos da União chegarão a US$ 20-25 bilhões.

 

Se o refino não aumentar, as exportações de petróleo cru deverão aumentar. O número de novas plataformas a entrar em operação sobe de 13 para 15 no período, com uma nova nas águas ultra profundas de Sergipe. As projeções da curva de produção da Petrobras destacam a importância dos campos adquiridos no contrato de Cessão Onerosa, de 2010, que hoje constituem os campos de Búzios, que corresponderão a um terço da produção da empresa em 2026. O pré-sal corresponderá a 79% da produção daquele ano. Tupi, que antes se chamava Lula, continuará como o maior campo produtor, com altíssima produtividade.

 

Os custos de extração do pré-sal estão em US$ 3,5 por barril e os novos projetos têm um breakeven de US$ 20, o barril. Benditas são as heranças das decisões tomadas, no passado, em relação aos investimento no pré-sal, Cessão Onerosa e modernização e expansão do parque de refino.

 

Figura 1 Composição da produção de petróleo da Petrobras 1953-2021 e projeção para 2026².

Algumas notas preliminares sobre o novo Plano Estratégico da Petrobras 2022-2026

Reprodução: Petrobras, 2021.

Qualquer novo governo que assumir em 2023 encontrará uma empresa com projetos de implantar cinco novas plataformas de produção naquele ano (Búzios 5, Itapu, Marlim 1, Marlim 2 e Mero 1), mas com um crescente problema de abastecimento doméstico de derivados, principalmente se a economia voltar a crescer, aumentado a demanda de combustíveis.

 

Os planos de expansão do refino, tanto no revamp de algumas refinarias, como na expansão da capacidade de processamento da RNEST, são absolutamente insuficientes para reduzir a dependência brasileira das importações. Em relação ao gás natural, o plano continua na trajetória “suicida” da Petrobras acelerar sua saída do setor, apesar da confirmação da UTG, no local do antigo COMPERJ, e melhorias operacionais previstas em algumas rotas de transporte. A saída da distribuição, tanto do gás natural como dos combustíveis líquidos, se mantém nesse plano que, apesar de melhorado em relação ao anterior, continua ainda fortemente concentrado em atender os interesses de curto prazo dos acionistas, desprezando outros públicos de interesses que constituem o universo das grandes empresas.

 


Fontes:

1 Que previa 84 bilhões de dólares de investimentos.

2 A curva de produção prevê 2,2 milhões de barris dia em 2023, 2,4 milhões em 2024, 2,5 milhões em 2025 e 2,6 milhões em 2026.

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