A sustentabilidade da produção de petróleo nos EUA

Foto: O Petróleo.

 

A produção de petróleo dos Estados Unidos registrou mais um novo recorde ao elevar a sua produção em agosto para 12,365 milhões de barris por dia (bpd). Impulsionada por um incremento de 30% na produção no Golfo do México, a alta produtividade da bacia do Permiano, entretanto, levanta suspeitas sobre a sustentabilidade dos seus projetos a longo prazo, tendo em vista o desempenho recente apresentado pelas principais operadoras do país e as incertezas em relação ao preço do petróleo.

 

As primeiras desconfianças vieram após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de Exxon e Chevron, as duas maiores companhias de petróleo dos EUA, que mesmo com o aumento da produção entre julho e setembro deste ano, registraram queda em seus resultados financeiros.

 

No caso da Exxon, embora a produção tenha crescido 6% em relação ao ano anterior, seu lucro líquido no trimestre foi de US$ 3,2 bilhões, uma queda de 49,2% em comparação ao mesmo período em 2018. Semelhante situação encontrada pela Chevron, que aumentou sua produção em 3%, mas teve suas margens de lucro reduzidas 36,2% quando comparadas ao ano passado (US$ 2,6 bilhões).

 

A justificativa para o descompasse entre a alta produtividade e a queda no desempenho financeiro está relacionada a redução dos preços internacionais do barril de petróleo, que oscilaram entre US$ 50 e US$ 60 na maior parte do tempo no último trimestre, o que representa uma queda de cerca de US$ 15 em comparação com 2018.

 

A diminuição de receita também afetou as atividades do setor de serviços. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Federal Reserve Bank, divulgada no início deste mês, o índice de atividades de negócios de energia do 3º trimestre registrou os piores resultados desde o início de 2016, incluindo queda na procura por novos equipamentos de faturamento hidráulico e redução no emprego e salários dos fornecedores. Segundo o relatório, o excesso de oferta nos equipamentos e os altos preços dos serviços podem ser as causas.

 

Mesmo com dados aparentemente desanimadores, as gigantes petroleiras acreditam que os revezes do setor nos EUA são momentâneos e apostam no sucesso a longo prazo. É o que também sugere o último relatório divulgado pela Agência Internacional de Petróleo. Em seu relatório Perspectiva da Energia Global, a AIE afirma que, mesmo com o crescimento anual na produção americana desacelerando nos últimos anos, as políticas já anunciadas significam que o país será responsável por 85% do aumento na produção global de petróleo até 2030. Dessa forma, a produção de petróleo norte-americana deve avançar 19 milhões de barris por dia ao longo da próxima década, o que reduzirá a fatia do mercado global detido pelos membros da Opep e pela Rússia dos atuais 55% para 47% em 2030, segundo a AIE. Quanto ao gás natural, o relatório da AIE projeta que EUA também representarão 30% do crescimento na produção até 2025. Com isso, a produção de petróleo e gás americana superará a da Rússia.

 

Mas há quem diga que as projeções recentes da AIE estão “extremamente otimistas”. É o que aponta o novo relatório do Post Carbon Institute, que afirma que as previsões de produção da AIE até 2050 “são na maior parte extremamente otimistas e, portanto, altamente improváveis de serem realizadas”. O relatório relembra o fato de que a expansão produtiva pela qual os EUA passam está relacionada à extração do óleo de xisto, nos quais os poços, após uma explosão de produção, passam a declinar rapidamente. “Os ‘pontos doces’ [regiões de óleo de xisto com maior taxa de retorno] inevitavelmente ficarão saturados em breve, e a perfuração fora deles exigirá taxas mais altas de perfuração e investimento de capital para manter a produção, além de preços mais altos de commodities para justificá-los”, afirma o relatório.

 

Seja como for, desde o início deste ano Exxon e Chevron anunciaram aumentos nas metas de produção de petróleo no Golfo do México. A Chevron planeja que sua produção líquida não convencional de petróleo no Permiano venha a subir para 600.000 bpd até 2020 e para 900.000 bpd até o final de 2023. Já a Exxon revisou seus planos de crescimento para produzir mais de 1 milhão de barris equivalentes de petróleo por dia  até 2024, o que representaria um aumento de quase 80% na produção atual.

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