Plano de resiliência da Eni aquém do esperado
Brasil Energia
A pior crise do século no setor petróleo poderá ser ainda mais difícil para algumas petroleiras em particular. É o caso da italiana Eni. No final do mês passado, a empresa divulgou os resultados do primeiro trimestre, registrando prejuízo líquido de 59 milhões de euros (US$ 63,5 milhões) – uma queda de 94% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando a empresa registrou lucro de € 992 milhões.
Em resposta à crise, a Eni anunciou algumas medidas de resiliência. A primeira delas foi um corte na produção de petróleo para 1,75 milhão ou 1,80 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boed), redução de 2,5% ante o originalmente planejado para este ano, em função da queda na demanda de energia.
Outro ponto foi a diminuição do seu capex de 2020 em cerca de 25%, equivalendo a um corte nos investimentos da ordem de € 2 bilhões. Para 2021, a expectativa é reduzi-lo ainda mais, entre 30% e 35%, encolhendo a margem dos investimentos entre € 2,5 bilhões e € 3 bilhões.
A maior parte dos cortes virá dos projetos de exploração e produção (E&P), como nos campos de petróleo no Iraque, além de ativos de petróleo e gás natural liquefeito em Angola e projetos em desenvolvimento na Indonésia, Egito e Emirados Árabes Unidos. “Os planos de perfuração em águas profundas também serão adiados à medida que as cadeias de suprimentos globais forem interrompidas”, afirmou o CEO da Eni, Claudio Descalzi, em uma teleconferência a investidores.
Em nota, a empresa também avisou que “avalia realizar novos cortes na produção para atender às exigências da Opep+”, mas que, no momento, avalia a situação de cada campo, sem apresentar detalhes.
A retração do consumo de óleo e gás também está levando a Eni a levantar dinheiro extra em dívidas. Nos três primeiros meses do ano, o endividamento líquido da empresa atingiu os € 18,7 bilhões, alta de 29% ante os € 14,5 bilhões do mesmo período em 2019. No último dia 23, a empresa de energia italiana aprovou a emissão de títulos de até € 4 bilhões (US$ 4,30 bilhões).
Embora tenha apresentado algumas ações de enfrentamento à crise, muitos especialistas consideram as respostas da Eni aquém do que as suas concorrentes têm praticado. Em uma nota técnica, o Royal Bank of Canada classificou as revisões anunciadas pela empresa como “decepcionantes”, especialmente por não ter apresentado ao mercado um plano de resiliência que considere os possíveis impactos dos cortes da Opep+.
(*) Rafael Rodrigues da Costa é sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo e Gás Natural (Ineep).
Artigo publicado originalmente em Brasil Energia.
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