A expansão das eólicas offshore no mundo e as expectativas para o Brasil
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A capacidade instalada mundial de energia eólica offshore terá de alcançar 494 GW, em 2030, o que significa quase sete vezes mais do que a registrada em 2023, de 73 GW. A estimativa é da Agência Internacional para Energias Renováveis (IRENA, na sigla em inglês) e leva em conta as necessidades previstas de expansão das energias renováveis no Acordo de Paris que trabalha como evitar o aumento da temperatura média de 1,5º C.
As informações fazem parte do estudo “Eólicas Offshore: viabilidade, políticas e perspectivas” (acesse aqui), realizado por José Sergio Gabrielli, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). O trabalho aborda o mercado da energia eólica no mundo, sua evolução nos últimos anos, projeções de expansão, custos, dificuldades atuais e a legislação, com destaque para a brasileira. Em janeiro último, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que regulamenta o uso das eólicas offshore no Brasil.
A pesquisa de Gabrielli detalha o portfólio mundial de projetos de energia eólica, que é grande. A China lidera tanto o crescimento da geração como a expansão da indústria de suprimento de equipamentos para o setor. O Reino Unido e o Mar do Norte também chamam a atenção pela concentração de projetos. A análise dos dados mundiais revela, por exemplo, que do ponto de vista dos custos atuais e projetados, a tendência é de queda a médio e longo prazos.
Assim, o que se verifica é um quadro positivo, apesar de o ano de 2024 ter sido marcado por crises, atrasos, adiamentos de projetos, estouro de orçamentos e poucas tomadas de decisões finais de investimentos. A posse, em janeiro último, de Donald Trump, na presidência dos Estados Unidos, também é, segundo o pesquisador, fonte de incertezas, assim como a deterioração das condições macroeconômicas de alguns países e as dúvidas sobre a trajetória futura do crescimento da China.
BRASIL
No Brasil, ainda não há usinas eólicas offshore em funcionamento, mas são vários os projetos em análise, principalmente no Ceará, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul, que aparentemente têm os melhores ventos marinhos no Brasil.
Segundo a ABEEólica, até agosto de 2024, existiam no Brasil 97 projetos de parques offshore cadastrados no IBAMA, que somavam 234 GW de potência a ser instalada, aguardando as definições legais para iniciar, continuar ou postergar os investimentos. O potencial gerador da eólica offshore seria de mais de 1,2 TW e cada GW instalado representa um investimento de €2,5 bilhões na economia brasileira, segundo dados da entidade em 2024.
Ao comparar as usinas offshore com as onshore, o estudo aponta vantagens para as primeiras, que não enfrentam obstáculos para os ventos tais como vales, montanhas, florestas e terrenos irregulares na superfície marinha. Já para as onshore há também dificuldades referentes ao uso e à legalização das terras, impactos visuais, deslocamento de populações originárias e limitações da operação dos sistemas interligados às redes. Os desafios na relação com as comunidades refletem os impactos sobre suas formas de vida tradicionais e redefinição de fluxos de renda entre os moradores.
“A aprovação do marco regulatório é fundamental para viabilizar a entrada em operação dos primeiros projetos de eólicas offshore no Brasil, embora se estime que esses projetos só possam iniciar operações após 2030, devido ao longo ciclo de desenvolvimento, que pode variar de 7 a 10 anos, desde o planejamento inicial até o início da operação”, comenta Gabrielli em seu trabalho.
No entanto, ele aponta, entre outros fatores inibidores para o avanço das eólicas offshores, o fato de a lei não abordar a questão dos custos. “Na legislação e políticas internacionais, um aspecto fundamental é o conjunto de incentivos para tentar aproximar os custos offshore dos onshore. No caso brasileiro, esses incentivos estão longe de serem definidos, assim como sua necessária territorialização, para aproveitar as diferenças de condições de vento entre as regiões brasileiras”, acrescenta.