A redução do uso de sondas de perfuração como símbolo da atual estratégia da Petrobras

Foto: Agência Globo.

Recentemente, uma fala do diretor-executivo de Desenvolvimento de Produção & Tecnologia da Petrobras, Rudimar Lorenzatto, em um evento organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), ganhou destaque nas publicações especializadas sobre a indústria de petróleo. O diretor-executivo da estatal afirmou que “a Petrobras nunca mais vai ter 70 sondas, como no auge do pré-sal”. Mesmo que ainda haja um potencial gigantesco de exploração na área do pré-sal, Lorenzatto assegurou que a Petrobras jamais realizará um volume de perfuração como feito no início da década atual.

Os leilões recentes de petróleo e os que ainda estão por vir demandarão um volume gigantesco de investimento em sondas de perfuração, plataformas de produção etc., no entanto, o ritmo desses investimentos dependerá do apetite da estatal em acelerar sua produção de petróleo. Todavia, não apenas a declaração de Lorenzatto, como também as informações disponíveis pela Petrobras mostram que o apetite deverá ser relativamente modesto.

Enquanto em 2015, a Petrobras possuía 59 unidades de perfuração arrendadas e outras 14 próprias, totalizando 73 sondas, em 2018, esse número cai para 22 unidades de perfuração, sendo 18 arrendadas e 4 próprias. Ou seja, entre 2015 e 2018, a Petrobras reduziu a utilização de mais de 50 unidades de perfuração.

Tanto os dados como a postura de Lorenzatto exemplificam a atual estratégia da Petrobras que, apesar de focar sua atuação no pré-sal, tem uma atuação cada vez mais tímida. Interessante notar que tal estratégia contraria o que outras operadoras fizeram ao descobrirem novas fronteiras de exploração de petróleo.

A ExxonMobil, por exemplo, recentemente descobriu uma nova área de produção de petróleo não convencional na Bacia do Permiano na região de Delaware. Após a descoberta, a operadora americana anunciou a aceleração dos seus investimentos a fim de ampliar sua produção no Permiano em até um milhão de barril de petróleo até 2024. Para isso, a empresa pretende aumentar, neste ano, o uso de sondas de perfuração de 48 para 55. Esse não é um movimento pontual, uma vez que em 2013 utilizava 37 unidades de perfuração e em 2018 já havia subido para 83 unidades.

A BP recentemente descobriu um gigantesco campo de gás no Mar Cáspio. Logo após a descoberta, a BP e outros parceiros anunciaram um investimento de US$ 28 bilhões visando a exploração da região. Entre tais investimentos, está a contratação de sete sondas de perfuração de uma joint venture composta pela Turan, KCA Deutag e a SOCAR. As sondas incluem as instalações no Leste, Oeste e Central Azeri, no Deepwater Gunashli, no Oeste Chirag, Chirag, e no Shah Deniz. O contrato terá uma duração inicial de cinco anos, com duas opções de prorrogação de um ano.

Evidentemente que é extremamente complexa a comparação entre o uso de sondas de perfuração para diferentes regiões de produção dadas as características técnicas e os objetivos de cada companhia. Todavia, saltam aos olhos a diferença de postura das empresas logo após de grandes descobertas. Diferente da ExxonMobil e da BP que dão exemplos de força ao ampliarem seus investimentos para explorar novas áreas de petróleo, a Petrobras segue o caminho contrário, dando enfoque à sua estratégia reducionista em todos os segmentos, até mesmo no pré-sal.

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