Desaceleração dos lucros da Petrobras: redução da produção de petróleo e da utilização de refinarias
Foto: Portos e Navios.
A Petrobras divulgará hoje (07/05), após o fechamento do mercado, o seu balanço do 1º trimestre de 2019. A expectativa é de que a empresa obtenha um lucro menor do que o observado no mesmo período de 2018 (R$ 7,1 bilhões).
Segundo estimativas do INEEP, o lucro líquido da Petrobras deverá ser de R$ 4,2 bilhões, considerando a provisão de 1,3 bilhões de reais referente aos litígios envolvendo a Sete Brasil.
Esse provável lucro menor, no cotejo com 1º trimestre de 2018, foi fruto da (i) queda de 5% na produção de petróleo (R$ barril); (ii) da diminuição de 8% do preço de exportação do petróleo (em R$); (ii) da redução de 3% da venda derivados, sobretudo diesel, segundo estimativas do INEEP; e (iii) da estagnação num patamar baixo do fator de utilização das refinarias (FUT).
Em relação ao E&P, as receitas de vendas estimadas deverão crescer 10% em relação ao trimestre do ano anterior. Isso decorrerá basicamente do aumento de 16% do preço do petróleo (R$/bbl) de venda no Brasil (que é o preço de venda do E&P para o refino da Petrobras e, ao mesmo tempo, o preço do principal insumo do refino da área de abastecimento), pois a produção de petróleo nessa comparação caiu 5%.
Cabe observar que essa produção de petróleo vem caindo trimestre após trimestre desde 3º trimestre de 2017, mesmo com a entrada em operação de novas unidades de produção. Essas quedas continuadas não conseguem ser explicadas apenas por paralisações programadas e refletem os impactos da redução dos investimentos da Petrobras desde 2015.
No que tange à área de abastecimento, a receita de vendas estimada deverá elevar-se em 3,1%, no cotejo com mesmo trimestre do ano anterior, fruto do aumento da receita da venda interna de derivados em decorrência do aumento dos preços, uma vez que as vendas declinaram nesse período. Cabe observar que, apesar desse aumento das receitas, a área de abastecimento deverá incorrer em prejuízos no 1º trimestre de 2019, assim como verificado no 4º trimestre de 2018. Isso se deve ao aumento dos custos operacionais, especialmente o referente a aquisição do petróleo nacional (carga fresca) que é adquirido junto à área de E&P da Petrobras (expansão de 28%) – preço de petróleo (R$/bbl) de venda no Brasil. É importante lembrar que esse custo é uma decisão interna da Petrobras de alocação da Petrobras entre refino e E&P e não reapresenta um aumento de custo efetivo.
Chama atenção o fato que o preço de petróleo de venda no Brasil cresceu 16% entre o 1º trimestre de 2018 e o 1º trimestre de 2019, ao passo que o preço do petróleo Brent (em R$) elevou-se em 10%. Logo, isso produz em termos contábeis um prejuízo no abastecimento e um maior lucro para a área de E&P.
Essa estratégia contábil, provavelmente, está associada a redução do pagamento de impostos para o conjunto da empresa no âmbito do novo Repetro, que ampliou as isenções tributárias para a exploração e produção de petróleo, inclusive no caso do imposto de renda sobre os lucros.
Nesse sentido, o provável prejuízo na área de abastecimento, que vai implicar no retorno negativo sobre o capital empregado (Roce), não pode ser utilizado como métrica de eficiência desse segmento da Petrobras. Se tal situação for utilizada como instrumento argumentativo explicita-se a falácia que vem sendo adotada para privatizar as refinarias a qualquer custo.
Na verdade, essa estratégia contábil somente consegue ser realizada no âmbito da empresa integrada verticalmente, que nesse casso específico aumenta a acumulação interna de capital em virtude do menor pagamento de tributos com o deslocamento do lucro do refino para o E&P. Além dessa questão tributária, a integração verticalmente garante de acesso às fontes matéria-prima, a ampliação das barreiras de mercado para novas empresas entrantes, o aperfeiçoamento logístico, entre outros elementos que ampliam a lucratividade da Petrobras.
Cabe observar que o FUT do parque de refino da Petrobras no 1º trimestre de 2019 deve ficar próximo de 75%, mesmo patamar do 4º trimestre de 2018 que foi caracterizado pela paralização da metade da produção da Replan (FUT de 50%) em virtude de um incêndio na planta. No 1º trimestre de 2019, a Replan já voltou a utilizar 71% de sua capacidade, no entanto, o fator de utilização de conjunto das refinarias permanece estagnado. Isso ocorreu em virtude da queda do FUT de algumas refinarias entre o 4º trimestre de 2018 e o 1º trimestre de 2019, sobretudo as que foram anunciadas no pacote de privatização do Castelo Branco – LUBNOR/CE (de 85% para 62%), REGAP/MG (de 91% para 83%), REMAM/AM (de 71% para 65%), REPAR/PR (de 88% para 78%), RELAM/BA (de 56% para 50%).
Chama a atenção que esse movimento (redução do FUT) também ocorreu no 1º trimestre de 2018 quando estava sendo estruturado o projeto de privatização de parte do refino, durante a gestão Parente, que foi abortado em decorrência da greve dos caminheiros fruto do aumento do preço do diesel no contexto da politica de preço de completo alinhamento com os preços internacionais.
A queda na produção de petróleo, atrelado a estagnação do FUT das refinarias, provavelmente provocará uma queda no EBITDA ajustado (lucro antes de juros, depreciação e amortização), que deverá ser da ordem de R$ 25 bilhões, em relação 1º trimestre de 2018.
Pelo lado do endividamento, os resultados do balanço deverão sinalizar a política em curso de acelerada desalavancagem (relação dívida líquida/LTM EBITDA), que tem como um de seus eixos a estratégia de adiantar o pagamento de dívidas junto aos seus credores, que está impactando negativamente na produção de petróleo.
Os possíveis resultados operacionais e financeiros do balanço do 1º trimestre de 2019 da Petrobras evidenciarão um arrefecimento do cenário externo para a Petrobras (queda no preço do Brent em US$), uma queda da produção de petróleo e gás, mesmo com a entrada em operação de novas unidade de produção, uma queda do refino para a geração de caixa da empresa e uma melhora no perfil da dívida.
Nesse contexto, qual seria o sentido de continuar com uma estratégia de desalavancagem tão acelerada que implicaria em continuar vendendo ativos, inclusive campos do pré-sal e refinarias, que são fundamentais para geração de caixa presente e futura da Petrobras.
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