Como estão os preços da gasolina no Brasil em relação a alguns países da OCDE?
Foto: O Petróleo.
Desde outubro de 2016, a Petrobras passou a implementar uma nova política de preços em que considera somente como parâmetros o preço internacional do barril de petróleo em dólares, a taxa de câmbio e os custos logísticos de transporte de derivados. Além disso, essa nova política impôs também uma frequência mais acelerada nos reajustes, os quais passaram a acontecer em um prazo de até quinze dias, tendo já variado inclusive diariamente, de modo similar a qualquer outra commodity.
Enquanto isso, outros países costumam não atrelar estritamente seus preços internos às variações internacionais do barril de petróleo, principalmente aqueles que são grandes produtores de petróleo. Um estudo comparativo sobre a evolução do preço real da gasolina em 157 países, realizado por Mahdavi e Ross em 2017 (1), mostra que somente aquelas nações que não conseguem estabelecer uma trajetória enraizada de exploração e produção petrolífera apresentam preços mais elevados e flutuações similares ao do barril do petróleo internacional.
Mesmo assim, de forma geral, os países costumam evitar repassar os reajustes frequentes do preço do petróleo internacional para os seus combustíveis. Ou seja, tais reajustes dos preços não costumam ser feitos de maneira automática em paridade com preços internacionais, diminuindo o alinhamento entre os preços internos com os externos em termos de tempo e de intensidade e levando em conta mudanças no mercado interno.
O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) realizou um comparativo da evolução do preço da gasolina comum em moedas locais (excluindo o efeito cambial), desde o primeiro trimestre de 2017 e o último de 2018, entre o Brasil e seis países (Áustria, Chile, Dinamarca, Japão, México e Estados Unidos) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com dados disponíveis no World Energy Prices da Internacional Energy Agency (IEA). Os resultados dessa comparação são esclarecedores: (i) entre o primeiro trimestre de 2017 e o quarto de 2018, o Brasil foi o país que teve maior crescimento do preço da gasolina; (ii) entre o primeiro e o último trimestre de 2017, quando o aumento do preço do barril do petróleo não foi tão intenso, somente Brasil, Estados Unidos e Japão não mantiveram o valor da gasolina internamente em patamares relativamente estáveis, os demais países tiveram uma ampliação do seu preço de no máximo (3%); (iii) os países europeus (Áustria e Dinamarca) apresentaram uma trajetória mais estável dos seus preços, o que sinaliza que há uma trajetória mais suave de reajustes ao invés de seguir “fielmente” as mudanças do barril de petróleo internacional, principalmente se tratando de países que não são produtores tradicionais de petróleo.
Tabela 1 – Variação do preço da gasolina comum (sem o efeito cambial) em número-índice (1T2017 = 100)
Fonte: World Energy Prices 2019 da IEA. Elaboração Ineep.
Embora seja importante as especificidades e diferenças na estrutura do setor petrolífero de cada país nesse comparativo, os dados acima sugerem a existência de diferenças na condução dos preços de derivados entre os países que precisam ser mais estudadas.
Em todo caso, em um país com as dimensões geográficas do Brasil, em que o transporte rodoviário se destaca como o principal sistema logístico do país, a instabilidade dos preços dos derivados atrelada às oscilações do mercado internacional afeta consideravelmente os custos de uma imensa quantidade de bens e serviços relacionados ou não ao setor. Outros países mostram que é possível, ao menos, atenuar esses movimentos e evitar que o consumidor local sofra constantemente com a volatilidade que caracteriza o mercado internacional do preço do petróleo.
(1) MAHDAVI, P.; ROSS, M. The political economy of hydrocarbon wealth and fuel prices. EEG State of Knowledge Paper Series, n. 5.1. Berkeley: University of Californa, 2017.
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