O petróleo brasileiro na política energética estrangeira: o caso da França

Foto: Agência Petrobras.

 

A política energética da França, no que diz respeito ao setor de petróleo, tem sido marcada por uma estratégia estatal de longo prazo de forte diversificação e internacionalização das suas empresas de petróleo desde os anos 1980. O petróleo offshore está inserido nessa política como forma do país de assegurar os recursos energéticos necessários à economia francesa, bem como alcançar escala global de produção neste setor, sendo a África e a América do Sul focos importantes neste segmento.

 

A entrada no Brasil da petrolífera francesa de maior destaque, a Total, assume espaço importante neste processo de internacionalização na geoestratégia do setor de petróleo francês dos últimos anos. Por se tratar de um país com escassez de petróleo, a estratégia de internacionalização das petrolíferas da França visa evitar uma demasiada dependência de empresas estrangeiras e, por isso, a busca por países com grandes reservas de petróleo é fundamental para o sucesso de tal estratégia. É, neste cenário, que se deve entender a entrada das empresas francesas, principalmente a Total, no pré-sal brasileiro.

 

O interesse nos recursos encontrados em alto mar tem sido expresso em documentos oficiais da França, como naquele denominado “Estratégia Nacional para o Mar e os Oceanos”, lançado em 2009. Entre outros aspectos, o documento conta com uma seção dedicada para indústria offshore de petróleo e gás enquanto uma atividade emergente que merece atenção, destacando o potencial benefício oriundo das riquezas marítimas, sobretudo aquelas encontradas nos territórios ultramarinos franceses.

 

A Guiana Francesa, localizada na América do Sul, é um desses territórios em que ao longo do seu espaço marítimo poderia se encontrar ainda recursos de hidrocarbonetos, figurando assim como mais uma fonte possível de somar na preservação da segurança energética da França. Contudo, a Total já interrompeu o projeto de exploração de petróleo offshore na plataforma continental da Guiana depois das atividades de perfuração, realizadas entre o fim de 2018 e início de 2019, não terem produzidos resultados.

 

Tal fato reforça o interesse da empresa francesa na exploração de petróleo na costa brasileira. A trajetória recente da Total no Brasil é marcada pela participação da empresa em todos os leilões de pré-sal ocorridos até então e pela contínua expansão de sua presença no segmento brasileiro. Apontado como seu principal projeto de exploração e produção no Brasil, a petrolífera comprou em 2013 participação no campo de Libra (20%), na Bacia de Santos, ao lado da Petrobras (operadora, com 40%), Shell (20%), China National Offshore Oil Corporation (10%) e China National Petroleum Corporation (10%). 

 

Antes disso, em 2011, a Total adquiriu participação de 20% da Shell em bloco BM-S-54 no pré-sal na Bacia de Santos, onde foi descoberto o campo de Gato do Mato. Já em 2012, a empresa virou operadora do campo de Xerelete, na Bacia de Campos. Neste campo, até 2015, a Total e a Petrobras tinham, cada uma, participação de 41,2%, com o restante em posse da BP. Depois deste ano, a Petrobras saiu e a francesa passou a ter 70% de Xerelete.

 

Já em 2013, além do campo de Libra, a petrolífera francesa adquiriu participações variadas em campos da Bacia do Ceará, do Espirito Santo, de Barreirinhas e da Foz do Amazonas, sendo que nesta última ainda aguarda permissão do Ibama para prospectar, contando já com quatro negativas do pedido.

 

Mais recentemente, em 2016, Petrobras e Total anunciaram que a empresa francesa seria parceira da estatal brasileira em dois ativos de alto potencial no pré-sal da Bacia de Santos. Um deles é Iara, na área do antigo bloco BM-S-11, onde a Total conta com 22,5% de participação, enquanto a Petrobras é operadora com 42,5%, ao lado de Shell (25%) e Petrogal (10%).

 

O outro é o campo de Lapa, onde a Total tem atualmente 35% de participação e é operadora da área, em parceria com a Shell (30%), Repsol-Sinopec (25%) e Petrobras (10%) – sendo que antes era a Petrobras que possuía maior parte e era operadora do campo, com venda concluída em 2018. Considerada uma “parceria estratégica” pela Petrobras com a Total, a aliança entre as empresas visa também permitir a atuação da petrolífera francesa em outras atividades, como em projetos de gás natural.

 

Embora não seja o foco deste post, cabe ressaltar que a Total e outras empresas da França também têm realizado investimentos no mercado brasileiro de renováveis, como o setor de biocombustíveis.

 

Desse modo, observando o caso da França, chama atenção não só o claro direcionamento de sua política energética para o segmento de petróleo brasileiro nos anos 2000, mas também a sintonia entre os interesses nacionais do país, com envolvimento do Estado no delineamento de estratégias nacionais para atuação internacional, e os interesses empresariais franceses, que miram conjuntamente o objetivo de assegurar a segurança energética do país no longo prazo. Além disso, aqui se aponta, portanto, mais uma evidência da maior visibilidade entre as potências ocidentais das potencialidades do Atlântico Sul no âmbito do setor energético.

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