EUA querem zerar a exportação de petróleo do Irã. Entenda:

EUA querem zerar a exportação de petróleo do Irã. Entenda

Ilustração: Renova Mídia.

 

A Casa Branca anunciou no início da semana que irá suspender, a partir de maio, a concessão de regra de exceção que permitia a oito países importar petróleo do Irã. A expectativa do governo americano é zerar as exportações do país ao redor do mundo. O fim das isenções poderá remover do mercado global mais de 1 milhão de barris/dia de petróleo iraniano. A China, entretanto, anunciou que não respeitará a sentença.

 

Em novembro, os EUA impuseram sanções às exportações de petróleo iraniano depois que o presidente Donald Trump retirou-se unilateralmente do acordo nuclear de 2015 entre o Irã e seis potências mundiais. Temendo problemas na demanda internacional, no entanto, Washington concedeu isenções aos oito principais compradores do Irã – China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Turquia, Itália e Grécia – permitindo-lhes compras limitadas por seis meses.

 

As isenções que vinham possibilitando esses países a comprar petróleo iraniano vão terminar em 2 de maio, segundo afirmou o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo. De acordo com o secretário, a palavra de ordem de Washington agora é “pressão máxima sobre o regime iraniano”. “É por isso que os EUA não farão exceções aos importadores de petróleo iraniano. O mercado global de petróleo continua bem abastecido. Estamos confiantes de que permanecerá estável à medida que as jurisdições se afastarem do petróleo iraniano”, comentou.

 

A decisão de deixar as sanções expirarem, contudo, pegou o mercado desprevenido. Os preços do petróleo subiram imediatamente ao pronunciamento da Casa Branca, aumentando em mais de 2,75% o preço do WTI (US$ 65,76/barril) e 2,97% o preço do Brent (US$74,11/barril), os maiores valores deste ano.

 

Para estabilizar os preços, Trump espera que os membros da Opep+ revertam rapidamente seus cortes de produção, como forma de substituir os barris perdidos do Irã e de outras fontes, como a Venezuela e a Líbia. Em sua rede social, o presidente escreveu: “A Arábia Saudita e outros membros da Opep mais do que compensarão a diferença de fluxo de petróleo diante das nossas sanções ao petróleo iraniano, que agora são integrais”.

 

Nesse sentido, a maior beneficiária da ação dos EUA, portanto, tende a ser a Arábia Saudita. A maior exportadora de petróleo do mundo e principal aliada do governo americano no Oriente Médio, a Arábia Saudita afirmou estar disposta a compensar a potencial perda de fornecimento, mas que primeiro precisará avaliar o impacto antes de impulsionar sua própria produção – o que significa, em outras palavras, um possível aumento na produção mas sem se comprometer com um cronograma ou volume.

 

Para Barani Krishnan, analista da Investing.com, as afirmações imprecisas das autoridades sauditas tem um propósito: se aproveitar da conjuntura para manipular os mercados a fim de elevar ainda mais os preços do petróleo. “Despojadas de sutilezas políticas, as afirmações [da Arábia Saudita] indicam que o abastecimento de petróleo no mercado ficará a cargo da Opep, que seguramente não permitirá o livre fluxo do produto aos preços que os consumidores desejam pagar”, disse o analista.

 

Krishnan também destaca que, além dos sauditas, o próprio mercado financeiro tende a especular o aumento de preços nas próximas semanas. Segundo o analista: “Gestores de fundos criarão a tempestade perfeita para os consumidores, elevando os preços do petróleo, até surgirem evidências suficientes de um ‘rebalanceamento de mercado’”.

 

O desafio, portanto, será mudar a direção do mercado, já que a prova necessária de abundância de fluxo de petróleo contraria a estratégia de restrição de oferta criada pelos sauditas nos últimos meses, que tem previsto uma redução em 1,2 milhão bpd no primeiro semestre deste ano.

 

Do lado dos países consumidores, a grande questão é como a China e a Índia reagirão. Sob a isenção dos EUA, China foi autorizada a importar 360.000 bpd, enquanto a Índia recebeu permissão de 300.000 bpd.

 

Como reação, o governo chinês anunciou, por meio de seu porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Geng Shuang, que “a China se opõe firmemente à execução norte-americana de sanções unilaterais” e disse ainda: “O governo chinês está comprometido com a proteção dos direitos e interesses legítimos das empresas chinesas”.

 

O tom enfático do governo chinês está relacionado aos inúmeros compromissos existentes entre os dois países. Por exemplo, a estatal chinesa Sinopec recebe do Irã o equivalente a 105 mil bpd como pagamento por um investimento de US$ 2 bilhões num campo de petróleo iraniano – além de outros ativos como o estoque de combustíveis iranianos no porto chinês de Dalian, dentre outros.

 

Ao contrário da China, outros clientes do Irã podem decidir sofrer em silêncio para não ter retaliações de Trump. É o caso da Índia, que até o momento não se pronunciou oficialmente sobre o assunto. Ou como a Turquia, que embora tenha condenado de forma oficial a decisão dos EUA de acabar com as isenções às sanções, na prática se viu obrigada a acatá-la, uma vez que os líderes empresariais turcos disseram que iriam aderir para não caírem na mira dos EUA.

 

O risco de um conflito militar na região é iminente. Segundo autoridades iranianas, há uma ameaça da Guarda Revolucionária Islâmica interromper o fluxo de petróleo que passa pelo estreito de Ormuz no Golfo Pérsico – a rota usada para transportar a maior parte do petróleo do Irã e da Arábia Saudia. “Os esforços dos EUA para boicotar a venda do petróleo do Irã não os levarão a lugar nenhum. Vamos exportar nosso petróleo tanto quanto precisamos e pretendemos. Eles devem saber que sua medida hostil não ficará sem resposta. A nação não fica ociosa diante de animosidades”, escreveu o líder supremo do Irã, Ali Khamenei.