Incertezas sobre Ômicron mostram que a guerra no mundo do petróleo deve continuar
Broadcast Energia
A descoberta da variante ômicron da Covid-19 representa mais um desafio para o fortalecimento do mercado global de petróleo. Os avanços na vacinação e a retomada das atividades econômicas tinham criado expectativas positivas de recuperação mundial da demanda pelo combustível. Isso já ficava claro pelo comportamento de grandes consumidores, como os Estados Unidos, Japão e Índia, de pressionar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para aumentar a produção em 2022, contrariando a decisão que a instituição havia tomado de ir incrementando a oferta aos poucos.
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No entanto, essas pressões não surtiram o efeito desejado, já que a OPEP decidiu manter o planejamento de expandir a produção em 400 mil barris diários. Apesar disso, segundo matéria da S&P Global Platts, a expectativa é que, depois de seis trimestres com um nível de desequilíbrio entre oferta e demanda, o primeiro trimestre veja um volume de venda de petróleo próximo ao consumo. Mesmo com a OPEP resistindo a elevar sua produção, “o tight oil americano e a produção fora da OPEP irá ajudar a recompor a oferta global de petróleo”, afirma a consultoria.
Com isso, as instituições já estariam revendo o nível de preços de petróleo para 2022. A EIA já estimava uma pequena queda na sua projeção tanto do Brent como do petróleo WTI. Esse movimento seria importante para arrefecer as pressões inflacionárias que assustaram todo o mundo durante o ano de 2021.
Todavia, o surgimento da variante ômicron pode impor uma nova queda da demanda global de petróleo, recriando um cenário de grandes incertezas como ocorreu em 2020. Na visão da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), os efeitos da variante ômicron devem ser temporários, levando a uma desaceleração na demanda mundial de petróleo, sem, entretanto, afetar a sua recuperação. A OPEP seguiu uma linha semelhante à da IEA. Em relatório divulgado neste mês, a organização aposta que a variante ômicron deve ter um efeito apenas leve e de curto prazo no mercado de petróleo, não impactando severamente o consumo do combustível. Dessa forma, ela prevê um consumo global de aproximadamente 99,13 milhões de barris por dia nos primeiros quatro meses de 2022, o que representa um aumento de 1,1 milhão de barris em relação à última previsão que havia sido feita, em novembro. Embora haja certa convergência nas previsões de consumo de ambas as instituições, elas divergem em relação à produção.
Enquanto a OPEP entende que os países produtores de petróleo que não fazem parte do grupo deveriam investir mais para ampliar a oferta, ajudando a robustecer o mercado, a IEA salientou que Brasil, Estados Unidos e Canadá devem atingir níveis recordes de produção.
Apesar da IEA e a OPEP enxergarem um impacto limitado da Ômicron, já há uma reavaliação entre os analistas sobre a projeção do preço de petróleo. Num painel de 35 economistas e analistas ouvidos pela Reuters em novembro de 2021, a expectativa era que o barril fechasse 2022 num valor acima de US$ 75. Agora, esses especialistas já revisaram suas expectativas para menos de US$ 73. “Com a perda de folego do crescimento demanda de petróleo e o crescimento da oferta persistindo, num cenário de fim da crise energética, há um novo ponto de equilíbrio do mercado petrolífero e, por isso, esperamos que os preços tendam a baixar a partir dos níveis atuais”, disse o analista de Julius Baer da Norbert Rücker.
Evidentemente, o impacto observado pelos analistas nesse momento ainda é bastante limitado, mas já é um sinal que há uma precificação do mercado internacional de possíveis impactos da ômicron sobre a indústria do petróleo. Por isso, não seria improvável ver os efeitos reais da variante ômicron modificando os cenários previstos tanto pela OPEP, quanto pela IEA.
Com novos casos de Covid-19 sendo confirmados e governos de países europeus tendo que novamente anunciar medidas restritivas de locomoção de pessoas para conter a nova variante, é provável que possa haver uma retração dos níveis de atividade econômica, o que poderia, mais uma vez, derrubar a demanda global por petróleo. Isso poderia novamente gerar uma grande deflação dos preços do petróleo colocando sob pressão não os consumidores, mas sim os produtores da commodity. Se há incerteza sobre o futuro da indústria, não parece haver dúvida que a guerra geopolítica entre os grandes ofertantes e compradores irá continuar.
Artigo publicado originalmente pela Broadcast Energia.
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