Aumento dos preços de combustíveis e ganhos no market share garantiram lucro da Petrobras no primeiro trimestre de 2021
CartaCapital
A Petrobras divulgou nesta quinta-feira (13/05) os resultados operacionais e financeiros do primeiro trimestre de 2021 (1T21). Segundo a companhia, o lucro líquido foi de R$ 1,2 bilhão, resultado do aumento das receitas de vendas para o mercado interno, principalmente por conta da elevação dos preços dos derivados; e da ampliação do market share e das margens do mercado de derivados nacional, sobretudo diesel e gasolina.
O resultado só não foi melhor em virtude das maiores despesas contábeis (sem desembolso) com variações cambiais, que no mesmo período registraram uma alta de 123,4% e tiveram impacto negativo de R$ 18,7 bilhões.
O lucro foi explicado, em boa parte, pela elevação de 14,2% na receita total de vendas, que ao longo do trimestre alcançou R$ 86,2 bilhões. As vendas de diesel e gasolina para o mercado interno – que registraram altas no trimestre de, respectivamente, 32,9% e 39,6% em relação ao primeiro trimestre de 2020 (1T20) – foram os principais componentes que puxaram a elevação das receitas.
Isso foi possível em virtude do deslocamento, no 1T20, das importações de diesel e gasolina por parte da Petrobras. Em outras palavras, a empresa elevou seu market share em ambos mercados. Estimativas do Ineep, a partir de dados da ANP e da própria Petrobras, apontam que a participação do volume de vendas de gasolina e diesel da estatal no país subiram de 65,6% 1T20 para 73,0% no 1T21.
» Leia também outros artigos sobre Estratégias nacionais e empresariais. Clique aqui.
Além do aumento do market share, a receita de vendas da Petrobras também foi impulsionada pelo aumentou o preço dos seus derivados no mercado interno em 22,1%. Reflexo da política de preços de paridade de importação (PPI) adotada pela estatal, que reajusta os seus preços de derivados a partir de mudanças nas cotações internacionais dos derivados, na taxa de câmbio e custos logísticos.
A combinação entre o aumento da participação da Petrobras no mercado brasileiro de derivados e altas nos preços dos derivados fizeram com que a receita de vendas da companhia para o mercado interno saltasse 26,7% no 1T21 em relação ao mesmo período do ano anterior, ficando em R$ 62,2 bilhões.
Já no mercado externo as receitas da Petrobras tiveram um movimento oposto, sofrendo uma retração de 9,3% em comparação ao 1T20. Isso se deu sobretudo pela forte queda no volume de exportações de petróleo cru, que despencaram 36,6%. O impacto da redução das exportações de petróleo, no entanto, foi parcialmente compensado pelas exportações de óleo combustível, produzidos também nas duas maiores refinarias do nordeste (RLAM e RNEST que continuam fazendo do programa de desinvestimento da estatal), que registraram no mesmo período um crescimento de 14,4%.
A diminuição nas receitas de vendas para o mercado externo sinaliza que a Petrobras poderá ter dificuldades para continuar elevando suas exportações no longo prazo. Tendo em vista a retomada da produção dos grandes ofertantes de petróleo aos níveis pré-pandemia e o aumento do estoque de petróleo cru da estatal, é provável que essa recente queda nas exportações seja reflexo de dificuldades da estratégia da companhia de vender sua matéria-prima para o mercado externo.
Cabe observar ainda a relação comercial da Petrobras com a China, principal destino das exportações da Petrobras, uma vez que ocorreu uma expressiva diminuição no volume de exportações (de 45,7%) entre o 1T20 e o 1T21, num momento em que a economia chinesa registrava um extraordinário crescimento. Isso pode ser explicado por uma possível deterioração das relações diplomáticas entre os dois países e/ou de ajustes de estoque de petróleo e derivados na China.
A elevação da receita total de vendas foi o item que mais afetou positivamente o lucro antes do resultado financeiro e impostos (cerca de R$ 33 bilhões), no 1º trimestre de 2021, uma vez que os custos dos produtos vendidos e os operacionais (descontando os impairments) foram próximos dos valores do mesmo período do ano passado. Esse lucro foi fortemente reduzido em virtude do resultado negativo financeiro de R$ 30,7 bilhões, afetado particularmente pelas maiores despesas (contábeis) com variações cambiais e monetárias. Com isso, o lucro antes dos impostos foi de R$ 3,2 bilhões.
Ainda sobre as finanças, a Petrobras no último trimestre reduziu consideravelmente o seu nível de endividamento, alcançando uma relação dívida líquida/EBITDA de 2,03 – valor mais baixo do que a meta de 2,5 que a empresa havia sinalizado em 2017 como principal motivo para a venda de seus ativos.
Essa redução do endividamento foi possível com a ampliação de 15% na geração de recursos operacionais no 1T21 frente ao 1T20. Isso permitiu a Petrobras, ao mesmo tempo, pagar suas despesas financeiras (com juros, arrendamentos e amortização de dívida, em cerca de R$ 25,4 bilhões), sem grande necessidade de capitação de novos financiamentos, e ainda obter um saldo monetário de cerca de R$ 7 bilhões já descontando os recursos utilizados em atividades de investimento que caíram a um dos patamares mais baixos da história recente.
Os investimentos no trimestre atingiram a cifra de US$ 1,9 bilhão, menor patamar em dólares dos últimos 20 anos, mesmo com a necessidade de explorar as áreas do pré-sal que estão nas mãos da estatal. A estratégia de ampliação da liquidez hoje, em detrimento da ampliação do investimento em imobilizados, tende a reduzir no médio e longo prazo os fluxos de caixa futuro, principalmente no segmento de exploração e produção (E&P).
Os dados em tela, portanto, reiteram a importância do mercado interno para a Petrobras, principalmente em períodos que não for vantajoso alocar sua produção de petróleo no mercado externo. Mostram, também, que a Petrobras no último trimestre obteve um ganho significativo com as vendas de combustíveis no mercado interno. Esse ganho é resultado da agressiva política de preços nos derivados, fruto da escolha da Petrobras de repassar a variação internacional do petróleo aos consumidores brasileiros. Além disso, coloca em xeque a estratégia de exportar petróleo cru, uma vez que a companhia dependerá de variáveis externas para ter sucesso. Apesar da mudança de gestão, nada indica que o compromisso em privilegiar acionistas e diretores e manter a estratégia de transformar a Petrobras numa empresa produtora de petróleo com olhos para o mercado externo tenham sido modificados.
Artigo publicado originalmente na CartaCapital.
Comentar
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.