Petrobras: o que se esperar da nova administração

William Nozaki
Petrobras: o que se esperar da nova administração

A Petrobras não pode ser gerida como uma empresa única e exclusivamente do mercado, assim como não pode ser gerida como se fosse uma empresa que responde apenas aos interesses do Estado. Ao longo da história da empresa, todos aqueles que deixaram de gerir adequadamente os dois pratos da balança experimentaram, de alguma maneira, o declínio e a queda.

 

O comentário, feito pelo coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (Ineep) William Nozak, tem dois sentidos. De um lado, uma crítica à forma como a Petrobras foi gerida por Roberto Castello Branco, destituído da presidência na última terça-feira (13/04). E de outro, uma sugestão para o novo presidente da empresa, general Joaquim Silva e Luna, que deverá assumir como presidente nos próximos dias.

 

 

Petrobras: o que se esperar da nova administração

Ilustração: Ineep.

Em webnário realizado pelo Ineep na noite de terça-feira (13/04), Nozaki fez uma análise do período em que Castello Branco presidiu a Petrobras e apontou para os possíveis passos da nova administração. Para ele, Castello Branco negligenciou um dos pratos da balança ao voltar-se para um projeto radicalmente ideológico e ao comparar petróleo a qualquer outra commodity.

 

“Isso voltou-se contra ele”, destacou o coordenador, referindo-se ao fato de o ex- presidente da estatal ter trabalhado com uma política de reajustes de preços (PPI) desfavorável à sociedade brasileira, porém favorável aos ganhos de acionistas. A ênfase e a intensidade dada a esta política provocou a sua demissão pelo presidente Jair Bolsonaro, além de tensões e fissuras, que ainda não estão solucionadas, no Conselho de Administração da empresa.

 

A nova gestão

Na avaliação de Nozaki, não haverá grandes alterações estratégicas na administração de Silva e Luna, mas deverá ocorrer uma mudança na velocidade dos reajustes dos preços dos combustíveis, o que poderá se refletir sobre calendário de privatização das refinarias, em função da incerteza que gerará aos investidores.

 

“Será menos por uma decisão deliberada da gestão de Silva e Luna e mais por um efeito colateral de um cenário de mudanças que está se impondo agora”, acrescentou ele, apontando as mudanças dos cenários político e econômico no Brasil e a orientação eleitoral do presidente da República como fatores de peso. “Certamente isso vai gerar pressões sobre a política de reajustes de reajustes, mas acredito que o governo continuará defendendo uma Petrobras enxuta, focalizada no pré-sal, atuando de maneira regional e muito mais preocupada com gestão de custos e da dívida do que com a gestão do investimento.

 

A partir da avaliação da gestão de Castello Branco e levando em conta seus resultados negativos, Nozaki deixou, ao final do webnário, algumas sugestões para o novo presidente da Petrobras: não cair no engodo de tratar a Petrobras como se ela fosse apenas orientada para o mercado e para a maximização dos ganhos dos acionistas; levar em conta que há alternativas para a política de preços (criação de fundo estabilizador de preços e mudanças na dinâmica de investimentos do parque de refino, por exemplo, como já sugeriu o Ineep); não tratar a Petrobras como uma empresa “apequenada”, como empresa regional, produtora apenas de óleo cru, mas como uma empresa integrada, portadora de futuro, com olhar para a transição energética e para os renováveis e aproveitar, da melhor maneir, os recursos e renda do pré-sal e do gás associado; ser mais aberto ao diálogo e menos radical em posições ideológicas do que o Castello Branco.

 

Destaques do webnário

 

Sobre a política de privatização acelerada na gestão de Castello Branco:

  1. Este desmonte da Petrobras não é positivo nem para o setor de óleo e gás do Brasil, nem para a história da eficiência do desenvolvimento energético. A Petrobras não tem mais condição de atuar no segmento de gás porque vendeu a Liquigás ou porque se desfez das suas participações na BR Distribuidora. É uma Petrobras que não é capaz de ajudar o Brasil no momento de inflação dos preços dos combustíveis, que não atua no setor dos fertilizantes e de petroquímicos, que não é capaz de participar dos esforços para o desenvolvimento da agricultura e da própria indústria, que não atua no segmento de gás e renováveis, que está na contramão daquilo que tem sido realizado pelo mundo e que não está se preparando para o futuro.
    Uma Petrobras que abre mão de aumentar as suas reservas provadas é uma empresa que está se aproveitando, no curto e no médio prazo, de tudo aquilo que foi descoberto no passado e não está desenhando e pavimentando condições sólidas para que possa desenvolver a natureza de sua própria atividade no futuro.
  2. Não teríamos entrado para a lista dos dez maiores players do globais da geopolítica do mundo empresarial do petróleo por meio da descoberta do pré-sal com este modelo de gestão (privatização de atividades em vários segmentos e concentração no pré-sal) que se instalou na Petrobras nos últimos anos e que se c acelerou d na gestão do Castello Branco.

 

Sobre o processo de mudanças na gestão da Petrobras:

  1. O que se explicitou neste processo foi a descoordenação de decisões da política de privatização do refino, da entrada de importadores e da manutenção da política de paridade de importação. Tudo isso transformou o segmento de abastecimento e a indústria de petróleo num ambiente conflagrado.
  2. Este processo assumiu este grau de radicalidade porque, ao longo de sua gestão, o Castello Branco arbitrou a companhia muito mais em favor dos interesses dos acionistas minoritários do que do próprio acionista controlador que o indicou.
  3. A coalizão que deu sustentação ao Castello Branco e que se refletia no Conselho de Administração da empresa é uma coalização formada pelos interesses de grandes petrolíferas internacionais, de grandes grupos financeiros e de grandes importadores. Isso criou um conjunto de dificuldades para que o governo pudesse enfrentar as tensões em torno da disputa de abastecimento e preços de combustíveis.
  4. Neste processo, ficou explícita uma cisão. O que havia era uma tensão entre o Castello Branco e uma parte da equipe econômica do governo. Há entre eles uma convergência sobre a manutenção da política de preços de importação, mas há divergências sore a modulação e a frequência com eu estes reajustes deveriam ser repassados pra as distribuidoras, revendedoras e consumidores.
  5. As disputas em torno do Conselho de Administração parecem sinalizar uma movimentação do acionista controlador (governo), tentando novamente tomar as rédeas dos rumos da Petrobras.
  6. Esta turbulência acabou levando a uma recomposição do Conselho de Administração, cujo perfil é de gestores com histórias menos ligadas ao mercado financeiro e mais à indústria de petróleo. Embora tenha menos representantes das petroleiras internacionais, não significa que o Governo vá fazer um giro pró-Estado conta as orientações pró-mercado que ele conduziu até aqui.
  7. Tudo indica que esteja havendo mudança de rota nos rumos da Petrobras para que ela possa ser mais aderente aos interesses do acionista majoritário, mas isso não deve significar nenhuma mudança pró-Estado nenhum rompante nacionalista.

 

Assista o programa na íntegra

 

Comunicação Ineep

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