Equinor avança em renováveis, mas segue na busca pelo melhor modelo de investimento
Broadcast Energia
A transição energética e a entrada das majors de petróleo na indústria de energia limpa são temas que têm motivado uma série de matérias e análises nos últimos tempos em diversos jornais e revistas especializadas pelo mundo todo. Embora seja uma discussão global, as petrolíferas ainda estão em buscam das estratégias mais adequadas para ingressar nesse segmento, segundo seus objetivos de longo prazo e sua forma de enxergar o segmento de renováveis.
A norueguesa Equinor, que iniciou sua trajetória de preocupação com as questões climáticas ainda na década de 1990 por meio de projetos associados à captura e armazenamento de gás carbônico, tem alterado sua estratégia de atuação dos renováveis desde então.
De 1996 até meados dos anos 2000, por meio do projeto Sleipner, a petrolífera da Noruega injetou com êxito sete milhões de toneladas de gás carbônico a uma profundidade de mil metros dentro do aquífero salino de Utsira, localizada na região costeira do Mar do Norte. Essa foi praticamente a única medida da empresa em relação à pauta de energia limpa, ou seja, a ação da Equinor ficou restrita à “redução das emissões” naquele período.
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Portanto, até os anos 2000, os esforços da empresa na agenda da mudança climática se concentraram na mitigação dos impactos negativos das atividades de exploração e produção de petróleo sobre o meio ambiente, principalmente no exterior.
A partir de 2007, quando ocorreu a fusão da empresa com outra gigante do setor, a Hydro, a diretriz estratégica da Equinor para os renováveis passou por uma primeira mudança importante. Isso porque, à época, a Hydro tinha uma atuação mais abrangente em diferentes segmentos industriais, incluindo outras formas de energia. De certa maneira, a expertise da empresa noruguesa se mostrava uma vantagem competitiva para Equinor avançar nesse novo mercado.
Com isso, a Equinor adotou uma postura mais agressiva no segmento de energia limpa a partir do seu Plano de Negócios de 2008. Em vez de se preocupar quase que exclusivamente com a emissão de gases poluentes, a estatal norueguesa iniciou com mais vigor suas atividades em formas de produção de energia mais limpa.
A escolha foi ingressar em projetos de energia eólica offshore mediante à aquisição direta de participação em operações do setor. De acordo com informações da própria Equinor, até 2017 a companhia participava de três empreendimentos nesse segmento na Grã Bretanha. No primeiro projeto, denominado Sheringham Shoal, que começou sua produção em 2011, a Equinor possui 40% do empreendimento. Nos outros dois (Dudgeon e Hywind Scotland), que iniciaram suas operações em 2017, a petrolífera norueguesa possui 35% e 75%, respectivamente.
A Equinor deve ampliar ainda mais suas atividades na eólica offshore, uma vez que outros projetos estão em construção. Ainda na Grã Bretanha, a empresa é concessionária do projeto Dogger Bank (com uma participação de 50%) que pretende construir três parques eólicos, sendo que dois deles já devem começar a funcionar em 2024 e 2025. Na Noruega, a Equinor detém 41% do projeto Hywind Tampen, cujas atividades estão previstas para iniciar em 2022. Diferentemente do que ocorre na Europa, nos Estados Unidos, os noruegueses se decidiram implementar sem parceiros o projeto eólico Empire Wind que deve fornecer até 9 mil megawatts até 2035 no estado de Nova Iorque.
Além da participação em projetos operacionais de parques eólicos, a Equinor incorporou à sua estratégia de inserção nas renováveis, a montagem de um fundo de venture capital em 2017. Esse fundo foi pensando para investir um valor de US$ 200 milhões, durante o período de quatro a sete anos, em empresas de energia limpa. Segundo o professor da Inland Norway University, Trond Nilsen, o foco era mais especificamente apoiar os investimentos existentes em energias renováveis, abrir novas oportunidades de crescimento, bem como estimular o desenvolvimento de novas tecnologias e modelos de negócio.
A criação desse fundo marcou um novo reposicionamento estratégico da Equinor na indústria de energia limpa. Junto à operação direta em projetos de eólica offshore, a petrolífera começou a montar fundos e programas de financiamento em empresas de renováveis, adquirir participações de empresas nascentes com elevada capacidade inovativa (start-ups) e diversificar os segmentos de atuação para além da eólica.
Em 2018, a empresa inaugurou, junto com outras instituições, um programa denominado Equinor’s Techstars Energy Accelerator que tem como objetivo fornecer financiamento a dez start-ups selecionadas a partir de recursos da Equinor, Techstars e Kongsberg, além de disponibilizar uma rede global de especialistas para acompanhar rapidamente seus negócios. No primeiro ano do programa, uma empresa do segmento de renováveis foi selecionada, a americana Ampaire. A empresa da Califórnia atua na construção de aeronaves elétricas mais verdes, mais silenciosas e menos dispendiosas de operar.
Ademais, a Equinor adquiriu uma participação de 50% do ativo de eólica offshore em Arkona na Alemanha, que é operado pela empresa alemã RWE desde 2019 e tem uma capacidade de 385 megawatts. Esse foi o primeiro projeto em que a companhia da Noruega se associou a uma start-up do setor sem atuar como operadora.
No biênio 2018/2019, a petrolífera também investiu cerca de US$ 200 milhões na aquisição de 15,2% da start-up solar Scatec que possui projetos solares na América do Sul. Em 2018, a empresa iniciou suas operações do parque fotovoltaico em Apodi no Brasil, com capacidade de 162 megawatts e, em 2020, no parque fotovoltaico de Guanizul 2A na Argentina com 117 megawatts.
A Equinor pretende ser ainda mais agressiva em seus investimentos em renováveis. Segundo cálculos de um estudo coordenado por Ensiah Shojaeddini, de 2010 a 2018, a empresa gastou US$ 2,5 bilhões com energia limpa, o que representou 1,8% do total do seu portfólio de investimentos, sendo a maior parte deles depois de 2017. Esse volume deve crescer significativamente até 2023, quando a empresa almeja investir US$ 6,5 bilhões principalmente, mas não só, em eólica offshore. Neste segmento, além Estados Unidos e da Grã Bretanha, a Equinor anunciou que deve investir no mercado polonês.
A trajetória da Equinor comprova que as empresas tendem a acelerar sua presença na indústria de renováveis, mas continuam em busca de um modelo mais adequado de inserção. E é natural que, neste processo, ocorram “idas e vindas”, alterações de estratégias e revisão de modelos de negócios. Os renováveis são importantes para o futuro da indústria de energia e da Equinor, mas ainda é cedo para prever como e em que ritmo isso vai ocorrer.
Artigo publicado originalmente no Broadcast Energia.
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Renato Garrick
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