O crescente papel das startups no processo de transição energética
Brasil Energia
Dadas as características das energias limpas que possuem uma menor intensidade de capital inicial e demandam rápida inovação tecnológica, as startups têm ampliado sua participação na indústria de energia, principalmente em renováveis como solar e eólica. As startups são a principal ponta de lança e têm provocado uma reorganização importante tanto na indústria energética da Europa, como dos Estados Unidos.
Todavia, a forma de participação das startups e a sua articulação com a indústria de energia tem ocorrido de forma diferente. No continente europeu, as startups estão dispersas, principalmente na parte ocidental, e mais recentemente tem se observado uma forte integração dessas empresas com as grandes majors de petróleo. Nos Estados Unidos, há uma maior concentração dessas startups, principalmente na Califórnia, onde há um grande investimento em energia limpas, e no Texas, onde está concentrada a indústria petrolífera. Dessa forma, há um número relevante de startups de petróleo em território americano.
As principais majors europeias têm se integrado com as startups de energia por intermédio de dois instrumentos. Primeiro, por extensos programas e/ou editas para financiar startups e, segundo, mediante a realização de aquisições de várias empresas desse tipo.
Em 2017, a joint-venture Butamax (a BP detém 50% de controle e outros 50% pertencem à empresa DuPont) comprou a Nesika Energy, LLC e sua moderna fábrica de etanol em Scandia, Kansas. De acordo com a Butamax, a compra e a ampliação planejada das instalações da Nesika para incluir a produção de bioisobutanol, a companhia visava avançar em direção à bioeconomia e, simultaneamente, apoiar as parcerias com comunidades rurais. Em 2019, a mesma BP desembolsou ainda US$ 200 milhões para adquirir 43% da empresa Lightsource, uma das maiores startups de energia solar da Europa, em 2019.
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Também em 2019, a Shell Ventures, o braço americano da empresa holandesa Royal Dutch Shell Plc, investiu na empresa de biomassa Punjab Renewable Energy Systems. O montante do investimento da Shell Ventures não foi divulgado.
A francesa Total, por sua vez, opera um Fundo de Risco denominado Total Energy Ventures, que fez investimentos em vinte startups desde a sua criação em 2008. Na média de 2010 a 2018, a petrolífera francesa apresentou a maior participação dos renováveis (cerca de 5%) na carteira de investimentos em comparação com as demais empresas do setor (média inferior a 2%).
A Equinor também fez movimentos importante na aquisição de startups. Em 2017, a norueguesa adquiriu 43,75% projeto solar de Apodi no Brasil mediante a compra de participação de 40% da Scatec Solar e 3,75% da ApodiPar. O projeto solar Apodi iniciou a construção durante o quarto trimestre de 2017 e as operações comerciais em novembro de 2018. Além disso, a estatal Statkraft transferiu todos os seus ativos de eólica offshore para a Equinor (NILSEN, 2017). Em 2018, comprou 50% dos três projetos de desenvolvimento eólico offshore de fase inicial na Polônia; anunciou o Hywind Tampen em agosto de 2018; venceu uma licitação de arrendamento eólico offshore em Massachusetts na venda de energia eólica. Além disso, adquiriu 50% do parque solar Guanizul 2A na Argentina à Martifer Renewables (EQUINOR, 2018).
Nos Estados Unidos, há uma difusão gigantesca de startups no setor de energia renovável. As startups de energia do mundo localizadas nos Estados Unidos totalizavam 66%.
Segundo a tese de doutorado de Hudson Mendonça, o papel do venture capital é fundamental para o crescimento dessas empresas no mercado americano. Segundo o autor, “é possível corroborar a influência do ecossistema de venture capital no surgimento das startups ao observar que 40% das empresas da amostra estão sediadas na Califórnia, estado onde se localiza o Vale do Silício, maior referência mundial em termos de startups, empreendedorismo e venture capital”. Além disso, a Califórnia conta com duas grandes universidades intensivas em tecnologia – a Universidade de Stanford e a Universidade da Califórnia/Berkeley –, que são grande alavancadoras do processo inovativo na região, estimulando a atuação das startups.
No Texas, há um número significativo de startups inovadoras no segmento de petróleo e gás. Algumas delas são a DeepCast.ai e Persuit Techologies. A DeepCast.ai desenvolve ferramentas para avaliar todos os processos produtivos, desde a localização dos poços até à previsão da produção, utilizando instrumentos de big data para fornecer aos seus clientes plataformas e módulos personalizados de dados. A Pursuit, por sua vez, desenvolveu uma ferramenta de completação de poços para reduzir a produção de água enquanto aumenta a produção de petróleo em poços horizontais. O objetivo da empresa é “mais petróleo, menos água”.
Não cabe superestimar o peso das startups na transição energética, todavia é importante considerar que essa “nova” esfera produtiva formada por essas empresas tem exercido um papel importante para apoiar esse processo e ajudar a redesenhar determinados segmentos energéticos.
[1]Coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), pesquisador visitante do Núcleo de Estudos Conjunturais da UFBA e doutorando em Economia Política Internacional pela UFRJ.
Artigo publicado originalmente no Brasil Energia.
Transição energética.
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