Empresas de óleo e gás terão de buscar soluções inéditas por causa da Covid-19

 

A pandemia da Covid-19 alterou drasticamente a rotina de todo o mundo. O isolamento social – a melhor forma de evitar e diminuir a contaminação pelo coronavírus enquanto não há vacinas ou tratamentos eficazes contra a doença – alterou velhos hábitos da população e afetou diretamente o setor de petróleo e gás natural, que viu a cotação do petróleo e o consumo de combustíveis despencarem. E se as empresas de óleo e gás reagiram a essa rápida mudança de formas diferentes, mas ainda pragmáticas, o ineditismo da Covid-19 desafia essas companhias a buscarem soluções inovadoras para uma realidade inédita que surgirá após a pandemia.

Estas foram as principais conclusões dos especialistas que participaram do webinar “Impactos e medidas emergenciais tomadas pelas empresas de óleo e gás”, o primeiro da série de webinares promovida pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP) sobre os impactos da Covid-19 no setor de óleo e gás, em parceria com a agência epbr. O evento dessa segunda-feira (18/5) reuniu William Nozaki, coordenador técnico do INEEP; Alberto Machado, diretor de Óleo e Gás da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq); e Marcelo Gauto, especialista em óleo e gás.

Se o setor de petróleo e gás natural já passou por várias crises, entre elas os dois choques registrados nas décadas de 1970 e, mais recentemente, a crise provocada pelo estouro da bolha imobiliária dos EUA em 2008, a Covid-19 trouxe um aspecto até então desconhecido, ao mexer na ponta do consumo. William Nozaki, do INEEP, citou as previsões de queda da demanda de óleo em 2020 da Opep+, de 6,8 milhões de barris/dia, e da Agência Internacional de Energia (IEA), de 9,3 milhões de barris/dia (em abril), o que vai exigir inovação nas ações.

“Medidas extraordinárias têm sido tomadas para uma crise de proporções dramáticas e históricas. A China acelerou seu plano de importação de petróleo e derivados e os EUA reduziram sua produção para enfrentar os gargalos de abastecimento e de estocagem. As petrolíferas implantaram planos de resiliência e de reorganização, e o que se verifica é que aquelas com algum nível de integração e de verticalização estão enfrentando melhor a situação, de forma mais diversificada”, avaliou Nozaki.

Investimentos postergados

Marcelo Gauto listou medidas tomadas pelas petrolíferas. Preocupadas com a proteção do caixa, essas empresas estão postergando os investimentos previstos para 2020 entre 25% e 30%, bem como o pagamento de dividendos aos acionistas. Além disso, estão focadas na redução de gastos operacionais.

“O cenário é de preços baixos e demanda reprimida, o que obrigou as companhias a colocarem o pé no freio. Mas é preciso ter em mente que, como tal situação é inédita na história do setor, será preciso também tomar medidas nunca tomadas até aqui”, reforçou o especialista em óleo e gás.

Alberto Machado, da Abimaq, lembrou que as petrolíferas estão na base da cadeia de valor do setor. Por isso, o foco deve se dar não na redução de custos pura e simples, mas na sustentabilidade dos projetos. Cortes precipitados afetam a indústria e podem comprometer a retomada do desenvolvimento.

“As oil companies têm uma cadeia extensa. É preciso analisar com cuidado cortes e adiamentos de investimentos, focar na geração de empregos. E tão importante os empregados são os fornecedores. No Brasil, a opção por importar mais barato hoje pode sair mais cara depois, pois compromete a cadeia de valor que gera impostos, renda e demanda”, avaliou Machado.

O posicionamento da Petrobrás na crise é motivo de preocupação. Se por um lado a empresa tomou medidas similares às de outras companhias, por outro mantém planos de desinvestimento e de saída de segmentos como o de fontes renováveis de energia, o que pode comprometer sua capacidade de recuperação. Sobretudo considerando que a transição energética para fontes mais limpas pode ser acelerada com novos hábitos de consumo pós-pandemia.

“As petrolíferas não são as vilãs da transição energética, elas devem ser protagonistas desse processo, sobretudo porque o gás natural irá liderar essa transição. As petroleiras devem desenhar de maneira consistente como vão agir. Por isso preocupa a saída da Petrobrás de projetos de fontes renováveis, na contramão do que outras grandes companhias estão fazendo”, apontou Nozaki.

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