Crise tende a consolidar integração e diversificação no setor de óleo e gás

 

 

Após o histórico preço negativo registrado pelo petróleo WTI nos Estados Unidos no final de abril, as cotações internacionais do óleo começam a dar sinais de recuperação. Com a expectativa de novos cortes de produção pela Opep+ e a reabertura social e econômica de países, o que tende a elevar o consumo, tanto o barril do Brent como o do WTI vêm se aproximando dos US$ 40 esta semana. Contudo, a volatilidade dos preços deve permanecer em curto e médio prazos. Com isso, três tendências se delineam no horizonte: uma maior verticalização das grandes empresas de óleo e gás, com a consolidação das majors como empresas de energia; mais movimentos de fusões e aquisições entre as companhias do setor; e a abertura de espaço para pequenas companhias em negócios específicos.

Os caminhos e as possibilidades para se chegar a esse cenário, no entanto, ainda são incertos, segundo os especialistas que participaram do webinar “Verticalização do setor”, o segundo da série de quatro webinares promovida pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP) sobre os impactos da Covid-19 no setor de óleo e gás, em parceria com a agência epbr. O evento dessa terça-feira (2/6) reuniu Rodrigo Leão, coordenador técnico do INEEP; Márcio Félix, vice-presidente executivo da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP) e CEO da Enp; e Fernando Sarti, professor do Instituto de Economia e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (NEIT) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

O lema “do poço ao posto” costuma explicar a tendência das grandes petrolíferas de buscar a integração de seus negócios. Mas, como explica Rodrigo Leão, do INEEP, o bordão que marcou as estratégias das majors estatais e privadas até o fim do século 20 ganha novas vertentes no século 21: “do pasto ao posto”, com os investimentos em biocombustíveis, e “do poço ao poste”, com o uso do gás natural para geração de energia elétrica e a aposta em fontes renováveis.

“Historicamente, a verticalização sempre esteve presente entre as grandes companhias de óleo e gás. As majors já surgem como empresas integradas, e esse movimento ganha força nas estatais nacionais nos anos 1980, devido aos preços baixos do petróleo. Ou seja, o debate é permanente. O que muda com o tempo é o grau, o tamanho e a forma dessa verticalização”, completou Leão.

 

Preço como fator crucial de estratégias

Márcio Félix, da ONIP e EnP, lembra que há outros fatores envolvidos nas discussões sobre integração, como o plástico, produto petroquímico e gás-químico. No contexto pós-pandemia, ele aponta para outro elemento crucial nas estratégias das empresas: o preço.

“Em todo o mundo já vivemos um sincretismo energético, com o petróleo, o gás natural e os biocombustíveis. No Brasil, temos várias possibilidades, como a do gás natural em terra. A produtividade dos poços de petróleo no Brasil é muito maior que nos Estados Unidos. É preciso integrar os variados segmentos para criarmos ecossistemas energéticos”, pontuou Félix.

Mencionando que a crise da Covid-19 deve ser muito maior que a crise financeira de 2008, Fernando Sarti, da Unicamp, aponta que a verticalização dá oportunidade às companhias de óleo e gás de reduzir seus riscos operacionais e financeiros. Ele acredita que a tendência é de uma consolidação do setor, por meio de fusões e aquisições.

“Desde 2008, o setor de energia registrou negócios de US$ 5,8 trilhões em fusões e aquisições de ativos, mesmo com a queda do CAPEX das empresas registrada a partir de 2013. É algo bastante significativo. A pergunta é ‘quem vai comprar quem?’. E é importante lembrar que o setor de energia é um ativo estratégico para os países”, frisou Sarti.

Apesar dos sinais de consolidação entre as majors, as pequenas empresas deverão continuar tendo oportunidades, como na extração de pequenas reservas de óleo e gás e no refino de pequeno porte. Contudo, para Leão, do INEEP, até mesmo as empresas de menor porte tendem a buscar a integração e a diversificação de suas atividades além do segmento de óleo e gás.

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